segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio

Ontem tive o prazer de conhecer a Casa-Museu de Marta Ortigão Sampaio. A história de Marta é muito interessante, incluindo a "história de amor" de seus avós, que na verdade foi uma história de amor entre seu avô e sua tia avó...

Antônio era um humilde rapaz. Em um belo dia, viu uma jovem rapariga, pela qual ficou a morrer de amores. Naquela época, as coisas aconteciam muito rapidamente e Antônio não hesitou em falar com o pai da jovem e pedir-lhe a mão da adorável menina em casamento. Esta, era de uma família de posses, e portanto, Antônio poderia se casar com ela apenas se emergisse na sociedade e se tornasse um homem respeitável e possuidor de bens.
Antônio, morrendo de amores e disposto a fazer o que fosse necessário para poder casar-se com a sua paixão, emigra para o Brasil, onde não consegue todo o êxito que almeja, partindo então para o Chile, onde se torna um importante comerciante.
Ao contactar novamente a família de sua amada, Antônio descobre que esta faleceu. Em consequência, ele se casa com Olinda, a irmã de sua antiga paixão! Não vi retratos de ambas, para poder afirmar se elas eram parecidas fisicamente, dessa forma fazendo com que Antônio suprisse a perda de seu amor e a impossibilidade de tê-la em seus braços. De qualquer forma, de sua união com Olinda, nasceram três adoráveis meninas: Maria, Aurélia e Sophia. Aurélia e Sophia, sobre as quais falarei mais adiante, se tornaram grandes pintoras naturalistas. Maria casou-se com Vasco Ortigão de Sampaio, nascido no Rio de Janeiro, e foi dessa união, que nasceu Marta de Souza Ortigão Sampaio e também suas irmãs Maria Feliciana e Estela Maria.

Maria Feliciana casou-se mas não teve filhos. Estela Maria Faleceu ainda jovem e solteira. Marta, nascida em 19 de março de 1897, casou-se aos 50 anos com Armando Fernandes de Siqueira, 51 anos.
Marta (50) e Armando (51) quando em seu casamento. Fonte: balcaovirtual.cm-porto.pt 

Ambientada a história da vida e família de Marta, agora falarei sobre o museu que ela desejou que se criasse, e que se pudesse visitá-lo, ficaria muito contente. 

No início nos anos 1950, Marta solicita ao arquitecto José Carlos Loureiro a projeção de um edifício que seria mais uma residência para a família dela, mas já com a intenção de uma futura abertura (de certas partes da casa) ao público. Em 15 de janeiro de 1958, Armando falece, o que foi muito inesperado. Marta dá continuidade ao projeto de construção do edifício, entretanto nunca veio a habitá-lo. De seu casamento não houve filhos, assim, por testamento, ela legou à Câmara Municipal do Porto todos os seus bens, e deixando o pedido da criação de um museu onde se desse destaque às exposições de artes decorativas.

O edifício possui um belo jardim, onde avistei um belo gatinho, idêntico ao que estava na entrada, apenas notei que não eram o mesmo pois o do jardim, enquanto eu estava a fotografar as plantas estava a pedir carinho todo o tempo, e o que avistei na entrada foi muito arisco e debandou-se quando tentei aproximar-me. 

Encontre o gato







No interior dos seis pisos nota-se o gosto tradicional de sua encomendadora nos tetos decorados, puxadores de porcelana francesa, lustres e luminárias cheios de requinte e elegância. Nos quartos, salas e saletas, estão expostos alguns objetos que pertenceram à Marta, estando divididos em salas de joias, móveis, biblioteca, arte decorativa (vidro, derâmica, madeira) e pinturas. Como ela deixou todo seu espólio para a Câmara municipal, e não caberia tudo no edifício, alguns de seus pertences estão a compor a mobília de órgãos municipais, como a própria câmara.




Antônio, avô de Marta foi um grande mecenas, tendo inclusive dado suporte ao trabalho de suas filhas Aurélia e Sophia. Na Casa-Museu em questão há muitas de suas obras, as quais Marta herdou de suas tias:




Ao fundo, observa-se a obra "Santo Antônio" de Aurélia de Sousa, 189x99cm.
 Aurélia nasceu em Valparaíso, no Chile (lembram-se do começo da história de amor entre Antônio e a irmã de Olinda? Pois...) em 13 de junho de 1866, no dia de Santo Antônio e a obra citada na imagem acima é um auto-retrato da pintora.

Belo biombo decorado por Aurelia. O jornal que o coelhinho está a ler, possui o título em espanhol,  assim está a pintora a se referir às suas origens chilenas. 
Observa-se a coleção de jarros, adquiridos durante viagens. Potencial indicativo dos planos da criação de um museu para a exposição de objetos decorativos.


Joia com configuração zoomórfica

Joia com configuração zoomórfica

Joia do século XX, onde em muitas joias eram confeccionadas com moedas antigas. Esta foi produzida com moedas do reinado de D. João V 
 No local também há exposição de obras contemporâneas:
Corpo de papel 



A Casa-museu Marta Ortigão Sampaio localiza-se na Rua Nossa Senhora de Fátima, 291, Porto, Portugal.

Terça a  Sábado das 10h às 12h30 e das 14h às 17h30
Domingo das 14h às 17h30