Ontem tive o prazer de conhecer a Casa-Museu de Marta Ortigão Sampaio. A história de Marta é muito interessante, incluindo a "história de amor" de seus avós, que na verdade foi uma história de amor entre seu avô e sua tia avó...
Antônio era um humilde rapaz. Em um belo dia, viu uma jovem rapariga, pela qual ficou a morrer de amores. Naquela época, as coisas aconteciam muito rapidamente e Antônio não hesitou em falar com o pai da jovem e pedir-lhe a mão da adorável menina em casamento. Esta, era de uma família de posses, e portanto, Antônio poderia se casar com ela apenas se emergisse na sociedade e se tornasse um homem respeitável e possuidor de bens.
Antônio, morrendo de amores e disposto a fazer o que fosse necessário para poder casar-se com a sua paixão, emigra para o Brasil, onde não consegue todo o êxito que almeja, partindo então para o Chile, onde se torna um importante comerciante.
Ao contactar novamente a família de sua amada, Antônio descobre que esta faleceu. Em consequência, ele se casa com Olinda, a irmã de sua antiga paixão! Não vi retratos de ambas, para poder afirmar se elas eram parecidas fisicamente, dessa forma fazendo com que Antônio suprisse a perda de seu amor e a impossibilidade de tê-la em seus braços. De qualquer forma, de sua união com Olinda, nasceram três adoráveis meninas: Maria, Aurélia e Sophia. Aurélia e Sophia, sobre as quais falarei mais adiante, se tornaram grandes pintoras naturalistas. Maria casou-se com Vasco Ortigão de Sampaio, nascido no Rio de Janeiro, e foi dessa união, que nasceu Marta de Souza Ortigão Sampaio e também suas irmãs Maria Feliciana e Estela Maria.
Maria Feliciana casou-se mas não teve filhos. Estela Maria Faleceu ainda jovem e solteira. Marta, nascida em 19 de março de 1897, casou-se aos 50 anos com Armando Fernandes de Siqueira, 51 anos.

Marta (50) e Armando (51) quando em seu casamento. Fonte: balcaovirtual.cm-porto.pt
Ambientada a história da vida e família de Marta, agora falarei sobre o museu que ela desejou que se criasse, e que se pudesse visitá-lo, ficaria muito contente.
No início nos anos 1950, Marta solicita ao arquitecto José Carlos Loureiro a projeção de um edifício que seria mais uma residência para a família dela, mas já com a intenção de uma futura abertura (de certas partes da casa) ao público. Em 15 de janeiro de 1958, Armando falece, o que foi muito inesperado. Marta dá continuidade ao projeto de construção do edifício, entretanto nunca veio a habitá-lo. De seu casamento não houve filhos, assim, por testamento, ela legou à Câmara Municipal do Porto todos os seus bens, e deixando o pedido da criação de um museu onde se desse destaque às exposições de artes decorativas.
O edifício possui um belo jardim, onde avistei um belo gatinho, idêntico ao que estava na entrada, apenas notei que não eram o mesmo pois o do jardim, enquanto eu estava a fotografar as plantas estava a pedir carinho todo o tempo, e o que avistei na entrada foi muito arisco e debandou-se quando tentei aproximar-me.
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Encontre o gato |
No interior dos seis pisos nota-se o gosto tradicional de sua encomendadora nos tetos decorados, puxadores de porcelana francesa, lustres e luminárias cheios de requinte e elegância. Nos quartos, salas e saletas, estão expostos alguns objetos que pertenceram à Marta, estando divididos em salas de joias, móveis, biblioteca, arte decorativa (vidro, derâmica, madeira) e pinturas. Como ela deixou todo seu espólio para a Câmara municipal, e não caberia tudo no edifício, alguns de seus pertences estão a compor a mobília de órgãos municipais, como a própria câmara.
Antônio, avô de Marta foi um grande mecenas, tendo inclusive dado suporte ao trabalho de suas filhas Aurélia e Sophia. Na Casa-Museu em questão há muitas de suas obras, as quais Marta herdou de suas tias:
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Ao fundo, observa-se a obra "Santo Antônio" de Aurélia de Sousa, 189x99cm. |
Aurélia nasceu em Valparaíso, no Chile (lembram-se do começo da história de amor entre Antônio e a irmã de Olinda? Pois...) em 13 de junho de 1866, no dia de Santo Antônio e a obra citada na imagem acima é um auto-retrato da pintora.
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Belo biombo decorado por Aurelia. O jornal que o coelhinho está a ler, possui o título em espanhol, assim está a pintora a se referir às suas origens chilenas. |
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Observa-se a coleção de jarros, adquiridos durante viagens. Potencial indicativo dos planos da criação de um museu para a exposição de objetos decorativos. |
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Joia com configuração zoomórfica |
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Joia com configuração zoomórfica |
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Joia do século XX, onde em muitas joias eram confeccionadas com moedas antigas. Esta foi produzida com moedas do reinado de D. João V |
No local também há exposição de obras contemporâneas:
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Corpo de papel |
A Casa-museu Marta Ortigão Sampaio localiza-se na Rua Nossa Senhora de Fátima, 291, Porto, Portugal.
Terça a Sábado das 10h às 12h30 e das 14h às 17h30
Domingo das 14h às 17h30